Estamos em um ano chave para o rumo que queremos seguir. Em outubro iremos participar da maior eleição já aconteceida na história do Brasil, em termos de número de candidatos e eleitores. Porém, é preciso conhecermos, de fato, o papel da sociedade civil e dos movimentos sociais na condução do processo político desse país. Será que participamos efetivamente da vida política do nosso país, estado ou município? Se não, por que isso acontece? Qual o meu papel? As eleições em sí possibilitam uma mudança, me refiro não a mudança de pessoas, ou de partidos, mas à mudanças na política, nos projetos de país e de mundo. Enfim, paramos um pouco para refletir a partir da reprodução de um artigo da revista Caros Amigos, escrito pelo professor Hamilton Otávio de Souza, da PUC-SP.
Disputa eleitoral e avanço popular - O que os trabalhadores e os movimentos sociais podem fazerpara ampliar sua organização e fortalecer suas próprias lutas.
Por Hamilton Octavio de Souza
A disputa eleitoral já está nas ruas. Ou melhor, está na mídia. Os jornais, as revistas, a TV, o rádio e a Internet já estão noticiando a movimentação dos partidos e dos candidatos. Ao mesmo tempo veiculam também os podres de sempre, as matérias encomendadas, a baixaria, a troca de denúncias sensacionalistas. Tudo indica que até o primeiro turno das eleições, no dia 3 de outubro, o povo brasileiro será bombardeado por uma guerra suja sem limites éticos e políticos.O tiroteio generalizado evidentemente encobre o verdadeiro sentido das eleições, que é a escolha consciente de propostas, programas e candidatos que expressem coerentemente as demandas maiores do povo. No meio da guerra suja, com acusações de todos os lados, fica cada vez mais difícil selecionar partidos e candidatos identificados com os trabalhadores e as causas populares, que mereçam a confiança não apenas no voto, mas principalmente depois de eleitos.Nessas horas, o melhor mesmo é não se deixar enganar pelo discurso demagógico e nem pela propaganda enganosa, não embarcar no denuncismo rasteiro da grande imprensa, já que a artimanha dos setores conservadores, das elites e da direita em geral, é confundir o eleitorado, é colocar todo mundo no mesmo saco da despolitização, do fisiologismo, da corrupção e dos interesses pessoais. Os eleitores precisam se livrar dessas armadilhas e escolher candidatos verdadeiramente comprometidos com as transformações sociais.Mais do que isso, o momento da eleição pode e deve ser aproveitado para que a comunidade, os trabalhadores e o povo, tratem de fortalecer as suas próprias organizações, as associações de moradores, os sindicatos, os movimentos sociais por moradia, educação, saúde, emprego, melhores condições de vida e de trabalho. Independemente da escolha de partidos e candidatos nessa eleição, as organizações populares devem debater a conjuntura política e econômica do país, construir suas próprias pautas de reivindicações, definirem seus métodos de luta, ter uma atuação forte e contínua para a obtenção de conquistas duradouras. A visão imediatista de que a eleição resolve tudo, é um grande equívoco.A eleição deste ano vai escolher presidente da República, senadores, governadores, deputados federais e estaduais. Devemos apoiar e votar somente naqueles candidatos que tenham projetos para o País, que não vão jamais trair o povo, que vão honrar os votos depois de eleitos. A eleição não é a única forma de o povo trabalhador influenciar na política brasileira. A verdadeira democracia é mais ampla que o sistema representativo, contempla a participação efetiva do povo trabalhador nos destinos do país, nos espaços públicos e privados, nas escolas, nos locais de trabalho e nas instituições em geral.O Brasil precisa de uma democracia real, ampla, participativa, com igualdade de direitos para todos. Mais importante do que o voto é a capacidade de pressão organizada dos trabalhadores e dos movimentos sociais. Se o povo não defender as suas propostas com total autonomia, dificilmente o que é prometido na campanha eleitoral será cumprido posteriormente. A força dos trabalhadores depende de sua própria organização permanente, em movimentos sociais, sindicatos e partidos. A hora é de refletir e de agir. O que devemos fazer para construir no Brasil a democracia que assegure o avanço popular?
Hamilton Octavio de Souza é jornalista e professor da PUC-SP
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ResponderExcluirMaurício,
ResponderExcluirGostei muito de sua introdução ao artigo do Prof. Hamilton Octavio. Entretanto, discordo de você em um ponto. Não creio que o ano eleitoral, seja ele para a escolha de nossos representantes em qualquer esfera do Governo, deve ser considerado como ano "chave" na determinação do rumo político, seja dos municípios, dos estados ou do Brasil. Creio que esta análoga condução se dá ao longo de nossa História, no dia-a-dia de cada casa onde uma família (ou várias delas) brasileira (sobre)vive. É claro que o período eleitoral é importantíssimo, que deve ser tratado como o ápice de nossas conquistas (re)democráticas. Todavia, pensamentos que levam os eleitores e demais participantes do processo, a dar ênfase a este referido intervalo de tempo, são perigosos e, ao meu ver, são uma das causas de nosso apatia perante toda sorte de escândalos, meias, pizzas, orações, que muito observamos na mídia em nosso País e fora dele, envolvendo nossa vergonhosa classe política. Neste sentido, sugiro-lhe uma mudança de paradigma: pensar no exercício do voto como algo semelhante a aprender a dirigir e consegir a habilitação. Trocando em miúdos, ninguém nasce sabendo como tirar sequer um fusca da garagem, certo? Então, o aspirante a Rubinho entra na auto-escola e, se não ocorrer nenhuma interferência dos currupacos, tira sua "carteira" sabendo conduzir um veículo e dá entrada e parcela o resto de sua "carroça" ou "cavalo", ficando endividado até o dia de S. Nunca. Isso, certamente, não lhe dará segurança e coragem para sair de nossa Querida Belém e ir até Brasólia perguntar ao Arruda qual é o próximo "esquema", correto? Percebe que, embora estejamos autorizados (no caso do voto, obrigados), muitas vezes não sabemos (de fato) fazer aquilo para o qual estamos "com carta branca"? Assim, pense no período entre os 16 e os 18 anos. É a nossa alfabetização cívico-elitoral! Isto por já havermos passado na pré-alfa durante o nosso suposto período escolar, onde teríamos adquirido as bases para este aprendizado. Aos 18, teríamos que saber votar. Infelizmente, não é isto que acontece. Mas, calma, há a recuperação contínua. O período inter-eleições. Concluindo esta parte, caro Maurício, a melhoria deve ser contínua e passa por algo que você conhece bem: Educação. Agora, pergunto-lhe: quantas vezes você reuniu os moradores de sua rua para discutir... Política? Não para falar do asfalto esburacado, mas sim de que setor da Administração Pública permitiu este dito estado de coisas e qual entidade do Poder deixou de cobrar a execução das obras necessárias. E o mais importante: quem é o responsável? Talvez você já tenha feito isto, visto que é um Educador e, certamente, se envolve com nossa Política. Eu, prezado, nunca.
Para não alongar mais ainda, apenas uma colocação a respeito do brilhante texto que transcreveu. Não acho pertinente, em nosso desempregado País, vincular a participação social nos movimentos de defesa de nossa frágil democracia aos "trabalhadores". A separação de brasileiros entre "trabalhadores" e "não trabalhadores" me passa a idéia de "honrados" e "desonrados", de "com direitos" e "sem direitos". Francamente, em um País onde o Estado é "uma mãe" por força da Constituição, alguém que segue esta linha, parece que perdeu o bonde. Somos todos brasileiros, inclusive os que não trabalham, qualquer que seja o motivo. É fato. Para mim, basta de movimento dos trabalhadores isso, dos trabalhadores aquilo. É hora de sairmos desse lugar comum e tratarmos a nossa realidade com soluções condizentes com a nação plural, miscigenada e, acima de tudo, democrática que somos. Chega de lobos disfarçados de Chapeuzinho Vermelho, nem a Vovozinha aguenta mais!